quarta-feira, fevereiro 28, 2007

SÓ HOJE...


Hoje não quero falar
Nem quero gente
Quero apenas ficar aqui
Em silêncio...
Sentindo seu cheiro
Ouvindo sua respiração ofegante
Te fazendo carinho
Sentindo suas mãos
Hoje não quero nem pensar
Quero apenas sentir...
E que as crianças silenciem
O sol se apague
Incensos queimem
Músicas parem
Porque hoje não quero nada ouvir
Quero apenas amar.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

VINCENT


Esse texto não terá muito sentido se antes você não clicar aqui: VINCENT.
Deixe a música começar e só então leia o conto.


VINCENT


Mariana tinha acabado de chegar à cabana que reservou pela internet. Não conhecia a cidade, mas estava cansada de calor, vivia a quase 30 anos numa cidade muito quente e aproveitou o inverno para curtir um pouco do frio. Não tinha roupa adequada para o frio que estava fazendo ali. Pensou em chegar, descansar um pouco, tomar um banho e dar uma caminhada pela cidade. Ver algumas lojas, comprar algo bem mais quente do que as poucas roupas de inverno que tinha.

Quando chegou ao hotel estava, servido um café colonial matutino. Ela foi até o restaurante e tomou um chá bem quente, pois isso aquecia sua alma, comeu algumas coisas deliciosas, como as tortas que só a cozinha alemã tem e voltou à cabana para arrumar suas coisas e descansar um pouco da viagem.

Depois de tudo arrumado e de um bom banho quente não sentia mais o corpo cansado e decidiu adiar o descanso, preferindo ir para a rua andar um pouco.

Logo depois do almoço pegou sua máquina fotográfica e saiu a pé. Comprou algumas coisas que precisava; entre outras coisas um casaco pesado, um par de botas com pêlos por dentro e um par de luvas do mesmo jeito e cor, um cachecol e uma boina de xadrez. Quando voltava para o hotel viu passar uma charrete com um rapaz dentro, "bonito rapaz", pensou. Virando a esquina viu um ponto de charreteiros e decidiu dar um passeio também. O charreteiro sugeriu que subissem à montanha. Era um passeio de um pouco mais de meia hora, mas o horário era propício. O sol já ia se por e era um dos lugares mais belos da região para se ver o poente entre as montanhas de picos congelados. E lá estava, em cima de uma montanha bem alta, vendo o sol morrer e fotografando tudo. Os picos das montanhas mais altas de um branco azulado passando a rosa com os últimos raios de sol, e logo depois lilás, era uma visão deslumbrante. Quando se deu conta viu que tinha um rapaz sentado bem perto dela, também vendo o sol se por, apenas vendo.

- Olá, muito prazer, meu nome é Vincent, ele disse.
- Oi, o meu Mariana. Muito prazer.

Eles conversaram um pouco, ele estava na cidade a negócios, e teria que permanecer lá por, pelo menos, uma semana. Estava começando a escurecer e era mais seguro que descessem, pois a montanha era muito íngreme e não tinha boa iluminação. Cada um toma sua charrete e começam a descer.

Quando chega à sua cabana acha que tomar um banho de banheira acompanhado de uma taça de vinho tinto vai bem para um frio que não estava acostumada. A água quente e o vinho fazem com que ela relaxe e sonhe um pouco na banheira. Vincent, bonito nome, ela pensa, assim como também é um bonito rapaz. Escolhe um vestido de veludo preto para o jantar, um pouco decotado, mas bem quentinho e um xale vai esconder um pouco o que o decote insiste em mostrar.

Ela se arruma, prende seus longos cabelos pretos em um coque e dá uma última olhada no espelho. O batom cor de terra clarinho compõe e ela gosta da imagem que vê no espelho.

Caminha até o restaurante. A noite é fria, porém a Lua deixa o caminho muito claro e bonito. Sente alguém que chega devagar por trás e se vira. É Vincent que está em uma cabana perto da sua. Ela se surpreende, pois à tarde esqueceram de dizer ou perguntar onde estavam hospedados. Ele chega perto e exclama:

- Puxa! Como você está bonita! Acho que será a mulher mais bonita dessa noite. Teremos um jantar dançante você sabia?
- Não, responde ela, cheguei hoje de manhã, arrumei minhas coisas e logo saí, acho que esqueci de ler a programação da semana.
- Pois é, mas sou justamente quem organiza a programação daqui, por isso eu sei. Este hotel faz parte de uma cadeia hoteleira e eu organizo a programação de toda a rede.

Vincent convida Mariana para jantar com ele. Depois do jantar e de algumas taças de vinho começa a tocar uma música de Tracy Chapman chamada Fast Car e ele a convida para dançar.

- Você dança muito bem, Mariana.
- Que bom que você acha isso, ou eu morreria de fome. Tenho uma academia de dança de salão.

Os dois riem. Não sabiam nada um do outro e agora ela dança com o promoter do hotel e ele convida, justamente, uma professora para dançar.

A noite passa rápido e eles nem sentem. Ela decide que é hora de ir para o chalé e Vincent a acompanha. Vão pelo caminho mais longo, mas o mais bonito, onde fica o lago que a essa hora está com todos os barcos no ancoradouro e uma Lua maravilhosa refletindo na água parada como se fosse um espelho. Mal se sentam num dos bancos do lago e Vincent vira o rosto de Mariana, toca seus lábios com tanta leveza, que ficam encabulados, em silêncio, e é ele que o quebra.

- Desculpa Mariana, mas não resisti a este beijo que, por mim, já teria sido dado enquanto dançávamos.
- Não sei Vincent, mas acho que as coisas estão indo um pouco rápidas. Só não tenho o que desculpar, a partir do momento que eu também queria esse beijo.

A partir disso se abraçaram e beijaram como antigos namorados que se perderam pela vida e ao se acharem não querem mais perder um tempo precioso com vergonhas bobas. E em um dos beijos Mariana sente a mão de Vincent tocar seus seios de uma forma forte, cheio de vontades que ela também tem.

Am mãos de Vincent livram Mariana do xale e percorrem seu corpo sem que os lábios se separem e ela não sabe mais se são os beijos ou as taças de vinho que a fazem ferver.

Vincent com a voz rouca fala:

- Melhor irmos, não acha? Ou não respondo por mim nesse banco do lago.
- Quando chegam perto da cabana de Mariana, Vincent pergunta se será convidado para o último vinho da noite. Mariana ri e pergunta:
- Quer?
- Lógico que sim! Responde ele. Só que vamos fazer uma coisa, enquanto você se arruma vou à minha cabana buscar um vinho para nós dois.

Ela se vira para entrar na cabana e ele a puxa de volta, dá um beijo em seu pescoço e fala baixinho:

- Me espere de camisola, por favor.

Mariana se sente arrepiar inteira. E tenta falar algo:

- Mas Vincent... Não termina a frase, um beijo a faz calar. Ele se vira e vai à direção da sua cabana.

Mariana entra e sente muito frio. Arrasta o tapete de pele de urso e coloca algumas almofadas em cima dele em frente à lareira; Pega um pouco de lenha e uma mesa de centro e coloca perto da lareira, em cima algumas velas e um incenso, duas taças de cristal. Olha em volta e gosta do que vê. Vai até o quarto e põe a camisola e o robe. Uma gota de perfume é o suficiente.

Escolhe uma música suave e sente que Vincent chegou. Chegou acendendo a lareira, as velas e o incenso. O chalé começa a ficar quentinho e muito aconchegante. Ele está lindo todo de preto. Uma camisa de flanela, calças, roupão de veludo e chapéu para se abrigar da neve que começa a cair em flocos miúdos. Quando Mariana entra na sala ele fala:

- Você está deslumbrante! E pergunta:
- Já viu neve?

Ela se assusta.
- Não! Por quê? Está nevando?
- Sim. Vincent enche as duas taças de vinho, pega sua mão e a leva até a janela. A pouca luz interior e a Lua cheia lá fora fazem com que a visão da neve caindo seja algo mágico para ela. Ele a abraça por trás e fica alguns minutos vendo aqueles floquinhos caindo, enquanto Vincent fala baixinho ao seu ouvido:

- Sei que você vai achar loucura, ou infantilidade minha, mas sei que quero você Mariana, e não apenas por uma noite, não só por essa noite. Também não sei por quantas noites, mas a quero por todas as manhãs, tardes, noites e madrugadas que pudermos sentir o que estamos sentindo hoje. Você é uma mulher especial! Além de muito bonita! E eu não quero mais perdê-la de vista. Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas quando eu estava na charrete indo para a montanha e você passou, algo em mim se quebrou em mil cacos e eu já não me conhecia mais. Quando você chegou lá na montanha e ficou fotografando o por do sol eu pensei: “quero essa mulher, pois sei que ela é minha, eu a buscava e ela chegou”. Estar aqui te abraçando e vendo a neve é um sonho para mim.

Mariana apenas se virou de frente para ele e falou: "sinto o mesmo". O abraço e os beijos fizeram que os únicos sons da sala fossem o crepitar do fogo e as músicas deliciosas que tocavam baixinho. Ele coloca vinho na boca, encosta na dela e passa o líquido bem lentamente para dentro da sua boca. Essa forma nova de tomar vinho deixa Mariana quase em êxtase.

Sem parar de se beijarem e de brincarem com o vinho, indo e vindo nas bocas, ela solta a faixa do roupão dele, assim como seu robe e logo depois a camisa dele. Vincent a acaricia por baixo da camisola e ela sente que seu corpo pede as mãos, a boca... Pede ele.

Tiram as últimas peças de roupa e ele a puxa para perto das velas e da lareira. Ficam se olhando. Corpos nus, os seios dela subindo e descendo numa respiração de quem não cabe em si.

Vincent a deita na pele do urso, derrama pingos de vinho em Mariana que geme baixinho. Ele lambe cada pingo do vinho que cai na barriga, nos seios e finalmente nos seus pelos. Ela explode em mil fogos naturais na boca de Vincent e numa dessas explosões o sente ocupando todo o seu espaço interior.

O dia começa a amanhecer, o céu a arroxear e Vincent puxa Mariana para que ela deite no seu ombro. Pega uma manta grossa, cobre os dois corpos nus e exaustos de tanto amar. Nessa hora começa a tocar uma música antiga: Don Maclen cantando Vincent.

Esta música é para se ouvir quietinha, num inverno, plena de amor, perto de uma lareira, tomando um vinho tinto, ouvindo a chuva ou a neve fazer barulhinho na janela, deitada numa pele e abraçada a um urso.

sábado, fevereiro 17, 2007

TEM HORAS...


Tem horas que sua presença incomoda
Tem horas que sua ausência dói.

sábado, fevereiro 10, 2007

DESENHO DE GIZ

João Bosco


Quem quer viver um amor
Mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz
A ilusão do amor
Não é risco na areia, é desenho de giz

Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer, desejar, decidir
Aí diz o meu coração
Que prazer tem bater se ele não vai ouvir?

Aí minha boca me diz
Que prazer tem sorrir
Se ele não me sorri também?
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um grande amor?


ai ai ai

Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer desejar, decidir
Aí diz o meu coração
Que prazer tem bater se ele não vai ouvir?
Cantar, mas me diga prá quê?

E o que vou sonhar
Só querendo escapar à dor?
Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor?

NOTA: Eu gostaria de saber quem conecta via: Zahav Internet, Israel

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

REQUIEM POR UM INOCENTE


Não se comete uma violência com uma só pessoa.

Toda violência contra uma pessoa, uma família, é cometida também contra uma nação, contra a raça humana.

Os humanos empobrecem a cada ato violento cometido contra seu semelhante.

E nada fazemos para mudar o curso desta história.

Até quando?


MÚSICA:
Étude nº3 -Mi maior - Chopin
OBS: O link não funciona bem no Firefox, só no IE.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

PAI


Não gosto de datas pré-estabelecidas, dia disso, dia daquilo. Acho isso tudo tão comercial.

Nunca senti necessidade de um dia especial para lembrar que meu pai.

Não preciso de uma data para olhar as flores que nascem no jardim da minha casa e lembrar que ele as adorava tanto que ia às pracinhas à noite roubar mudas.

Não preciso de um dia dos pais para olhar os canários que comem as sementinhas que botamos pra eles e lembrar que meu pai criava canários e os amava, ficava horas perto deles e conhecia de longe o canto da cada um, como se fosse seus filhos falando.

Sua morte não foi um corte na nossa relação, nos relacionamos até hoje.

Quando vim morar nessa casa, olhei para ela, andei pelo jardim e pensei: "Linda, né pai? Você vai gostar de vir me visitar aqui. Ela tem plantas e canários, tem eu, seu genro, seus netos e bisneto, e sei que você passeia entre a gente porque mesmo não te vendo eu te sinto por aqui".

Não preciso de um dia especial, só preciso fechar os olhos, abrir a alma para me sentir indo ao encontro dele, me sentir abraçada e saber que continuo sendo amada por ele.

Na Terra ele foi um homem muito simples sem ter tido a possibilidade de estudar muito, mas tinha muita sabedoria acumulada no espírito e soube me ensinar coisas simples. Soube me fazer ver a força do respeito pelas coisas vivas, soube me ensinar que quando trapaceamos estamos enganando a nós mesmos e quando caímos o melhor que temos a fazer é levantar, bater o pó da bunda e tocar em frente, sabendo que outras quedas virão, e que isso faz parte da escola de vida.

Ele me ensinou a por o coração na frente das decisões, mas antes disso fazer cálculos racionais meticulosos para diminuir a margem de erro.

Ele me ensinou a não ser submissa e a lutar até o fim pelo que eu quero e me falava para não abrir mão dos meus princípios, se eu tivesse certeza que estou com a razão.

Quando andávamos pelas ruas do Rio e eu era uma menina de pernas curtas, ele dava passos longos e eu queria acompanhar. Isso me fez não ter medo de dar passos longos na vida.

Ele me ensinou que devemos chegar onde nossa mão alcança, mas sempre me falava que os bons negócios da vida dele foram feitos quando não tinha dinheiro, mas sim muita garra para consegui-los.

Ele me ensinou a amar as coisas e ter certeza que o homem é imortal, pois seus atos ficam gravados na memória dos outros homens.

E eu o amo porque ele fez de mim uma pessoa honesta e corajosa.

Como escreveu Hermann Hesse: SER É OUSAR SER.

E ele me ensinou a ser ousada.

Onde você estiver, obrigada pai e parabéns pelos 80 anos que faria hoje.

sábado, fevereiro 03, 2007

FALSO BRILHANTE

João Bosco


O amor é um falso brilhante no dedo da debutante.

O amor é um disparate na mala do mascate, macacos tocam tambor.

O amor é um mascarado, a patada da fera na cara do domador.

O amor sempre foi o causador da queda da trapezista pelo motociclista do globo da morte.

O amor é de morte.

Faz a odalisca atear fogo às vestes e o dominó beber água-raz.

O amor é demais! Me fez pintar os cabelos, me fez dobrar os joelhos, me faz tirar coelhos da cartola surrada da esperança.

O amor é uma criança.

E o mesmo diante da hora fatal o amor me dará forças pro grito de carnaval, pro canto do cisne, pra gargalhada final.