terça-feira, dezembro 14, 2010

UM ÍNDIO


Ela levantou o copo, levou à boca e numa fração de segundos o erro de cálculo fez com que parte da cerveja pingasse entre os seios e escorresse... Isso foi o bastante para levá-la a um passado não muito distante.

Quando ela era uma gueixa, uma prostituta, uma vadia que só pensava em sexo, ele chegou. Gueixas não são prostitutas, mas ela era as duas coisas. E gostava! Ah Deus! Como gostava! Seus clientes eram muitos, mas ele era especial. Falava pouco, mas seu silêncio era uma marca registrada. Um silêncio que falava tudo o que ela queria ouvir. Ele falava pouco com palavras, mas muito com os olhos, com cheiro que exalava, com as mãos... que mãos...

Há alguns anos ele não a visitava mais, mas sempre que ela fechava os olhos via aquele caminhar tão dele, sentia aquelas mãos tão quentes, aquele cheiro de tesão, e voltava a se sentir úmida só em lembrar.

Ele era especial, um índio que nasceu fora da sua tribo, um menino frágil e forte ao mesmo tempo, e muito humano, muito sábio. Ele conseguia tocá-la profundamente só em olhar. Era realmente um sujeito estranho, sabia pegar e mais*...

Mas um dia ele se foi. Ela não sabe bem se viajou, se morreu ou optou por voltar para o lado obscuro da sua alma.

Ela sente que o perdeu.
E ele se perdeu em si mesmo.


* citação de Sujeito Estranho, música de Oswaldo Montenegro

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